Filmes e séries que erraram (ou acertaram) sobre o futuro das comunicações


Filmes e séries que erraram (ou acertaram) sobre o futuro das comunicações

Ao longo do último século, roteiristas, diretores e autores se aventuraram a imaginar como nos comunicaríamos no futuro. Alguns previram tecnologias com uma precisão assustadora; outros erraram feio - mas, muitas vezes, de forma criativa e divertida. Seja mostrando dispositivos inexistentes ou prevendo mudanças sociais que nunca aconteceram, o cinema e a TV servem como um espelho (às vezes distorcido) de nossas expectativas tecnológicas.

Vamos analisar alguns acertos e erros famosos no retrato do futuro das comunicações.

“Jornada nas Estrelas” (Star Trek) e o comunicador portátil – Acerto

Nos anos 1960, a série Star Trek apresentou ao mundo o comunicador portátil: um pequeno aparelho que permitia que os personagens se falassem à distância, sem fios, de qualquer lugar. Na época, a ideia parecia coisa de ficção científica pura. No entanto, décadas depois, os primeiros celulares de flip, como o Motorola StarTAC, surgiram com um design e função que lembravam bastante os comunicadores da Enterprise.

Mais do que isso: a própria NASA já admitiu que Star Trek inspirou engenheiros a desenvolver tecnologias semelhantes. Hoje, o conceito vai além: smartphones não apenas realizam chamadas, mas também enviam vídeos, imagens e localização em tempo real — algo que nem o Capitão Kirk tinha à disposição.

“De Volta para o Futuro – Parte II” e as videochamadas – Acerto

No filme de 1989, Marty McFly viaja para 2015 e, entre outras previsões, vemos que as pessoas fazem videochamadas com telas grandes na sala de casa. Na época, a ideia parecia futurista, mas, em 2025, não só isso é realidade como já é rotina.

Aplicativos como Zoom, Google Meet e FaceTime tornaram possível conversar com qualquer pessoa no mundo, em alta definição, e até com múltiplos participantes. Curiosamente, o filme não previu que a maioria dessas chamadas seria feita pelo celular, e não por televisores de parede.

“Blade Runner” e os telefones públicos futuristas – Erro

Em Blade Runner (1982), o futuro de 2019 é retratado com carros voadores, anúncios holográficos e… cabines telefônicas sofisticadas para videochamadas. O filme acertou na estética urbana futurista e na propaganda digital, mas errou ao manter os telefones públicos como centro da comunicação.

A realidade seguiu um caminho diferente: os celulares pessoais substituíram praticamente toda a infraestrutura de telefone público. Hoje, a ideia de precisar ir até um local para se comunicar parece obsoleta.

“2001: Uma Odisseia no Espaço” e a videochamada paga – Acerto parcial

O clássico de Stanley Kubrick, lançado em 1968, mostra um astronauta fazendo uma videochamada com sua filha usando um terminal da Bell System. Essa previsão foi certeira quanto à possibilidade da comunicação visual em tempo real, mas errou em um detalhe: o pagamento por uso.

Na vida real, a popularização da internet e das conexões digitais tornou as videochamadas basicamente gratuitas, com exceção dos custos de dados ou internet. Não pagamos por cada chamada de vídeo, como o filme sugeria.

“Minority Report” e a publicidade personalizada – Acerto

No filme de 2002, dirigido por Steven Spielberg, vemos anúncios interativos e personalizados que se adaptam ao perfil de cada pessoa, usando reconhecimento ocular para identificar quem está passando. Embora a tecnologia de reconhecimento ocular ainda não seja tão comum em publicidade, algo semelhante já acontece com cookies, algoritmos e geolocalização.

Hoje, navegamos pela internet e, minutos depois, recebemos anúncios exatamente sobre aquilo que pesquisamos. O conceito de comunicação dirigida e sob medida foi previsto com precisão assustadora.

“O Quinto Elemento” e o excesso de telas – Acerto com exagero

A ficção de Luc Besson (1997) mostrou um futuro colorido e caótico, no qual telas, anúncios e dispositivos de comunicação estão por toda parte. Essa saturação visual parecia exagerada, mas hoje vivemos algo semelhante: outdoors digitais, notificações constantes e múltiplas janelas abertas no computador ou celular.

A diferença é que, em vez de um único canal de comunicação centralizado, temos dezenas, desde redes sociais a aplicativos de mensagens. A previsão não errou na essência, mas não previu o impacto das mídias sociais.

“Her” e os assistentes virtuais – Acerto

O filme Her (2013) talvez seja um dos retratos mais realistas e sensíveis do futuro da comunicação. Nele, o protagonista se apaixona por um sistema operacional com inteligência artificial, capaz de conversar de forma natural, entender emoções e manter diálogos profundos.

Com a ascensão de assistentes como Siri, Alexa, Google Assistente e, claro, inteligências artificiais avançadas como as de hoje, a ideia de interações conversacionais sofisticadas já não é ficção distante. Ainda não chegamos ao nível emocional retratado no filme (e talvez isso seja até positivo), mas a base tecnológica já existe.

“Black Mirror” e o crédito social baseado em avaliações – Acerto preocupante

No episódio Nosedive (2016), de Black Mirror, as interações sociais são mediadas por um sistema de pontuação pessoal, no qual cada pessoa avalia a outra em tempo real, impactando diretamente sua vida. Embora pareça distópico, países como a China já experimentam sistemas de “crédito social” que avaliam cidadãos com base em comportamento e interações.

O episódio também retrata como a comunicação se torna superficial quando é guiada por medo de perder pontos, algo que, em menor escala, vemos em redes sociais, onde curtidas e engajamento influenciam comportamentos.

“Os Jetsons” e o trabalho remoto – Acerto com atraso

O desenho animado Os Jetsons, criado nos anos 1960, previa um futuro de cidades flutuantes, robôs domésticos e… trabalho remoto. George Jetson frequentemente participava de reuniões virtuais com seu chefe por meio de grandes telas.

A previsão não se concretizou tão cedo quanto imaginavam, mas ganhou força a partir da década de 2020, principalmente durante a pandemia. Hoje, milhões de pessoas trabalham integral ou parcialmente de casa, com videoconferências e sistemas colaborativos online.

Previsões que ficaram pelo caminho

Além dos acertos, há uma longa lista de ideias que simplesmente não aconteceram:

  • Transmissão telepática: Muitas produções apostaram na comunicação mental direta, mas, fora alguns experimentos limitados com interfaces cérebro-computador, ainda estamos longe disso.

  • Correio por tubos pneumáticos: Filmes de ficção dos anos 50 e 60 imaginavam cartas e pacotes sendo enviados por canos de ar comprimido, algo que nunca se popularizou fora de ambientes industriais.

  • Telefonia com hologramas realistas: Apesar de avanços em projeções e realidade aumentada, ainda não temos hologramas ao estilo Star Wars para conversas diárias.

O que aprendemos com esses erros e acertos?

Ao observar essas previsões, percebemos que o futuro da comunicação é moldado por três forças principais:

  1. Necessidade social – Tecnologias que atendem demandas reais tendem a prosperar (videochamadas, mensagens instantâneas).

  2. Viabilidade técnica – Muitas ideias ficam no papel até que avanços em energia, redes e dispositivos as tornem possíveis.

  3. Imprevisibilidade cultural – Algumas soluções tecnológicas são possíveis, mas não pegam simplesmente porque não se encaixam no comportamento ou interesse das pessoas.

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