Ações brasileiras de tecnologia mostram força durante a crise


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Ações brasileiras de tecnologia mostram força durante a crise

A pandemia de coronavírus e o isolamento social trazido por ela apresentou ao mundo um novo estilo de vida, em que muitas atividades e tarefas estão sendo cumpridas pela internet ou de modo digital. Se por um lado muitas empresas e setores sofreram com as ruas vazias, por outro, o segmento de tecnologia se mostrou ainda mais necessário e, inclusive, registrou ganhos com essa nova realidade. Mas será que as empresas brasileiras de tecnologia também seguem a mesma tendência?

Na última semana, gigantes da tecnologia mundial como Apple, Amazon e Alphabet reportaram seus balanços do segundo trimestre. A Amazon, por exemplo, duplicou seu lucro em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo a cifra de US$ 5,24 bilhões. A Apple teve uma alta de 12% no lucro, chegando a US$ 11,25 bilhões. A Alphabet, por outro lado, teve queda no lucro em relação ao ano passado - apesar de a cifra de US$ 6,96 bilhões ser alta.

Não é difícil imaginar que gigantes como essas lucrem em períodos como o atual. Porém, o que muitos investidores não sabem é que as empresas brasileiras de tecnologia também têm se saído bem durante a crise.

A Locaweb, empresa de hospedagem de sites, abriu seu capital em fevereiro, com papéis cotados a R$ 20,60. Desde então, suas ações já subiram 127,76%, valendo no fechamento do dia 31 de julho, R$ 47,90. Entre 16 de março e 30 de julho, a valorização foi de 217,2%.

A empresa de softwares Totvs começou o ano com suas ações cotadas em R$ 23,05. No dia 16 de março, os papéis valiam R$ 16,51. No dia 31 de julho, no entanto, eles fecharam o dia em R$ 25,83, o que significa uma alta de 12,06% no ano, mas de 56,45% durante a crise.

A Sinqia, empresa fornecedora de softwares e tecnologia para sistemas financeiros, começou o ano com as ações valendo R$ 24,60. Em 16 de março, as ações estavam cotadas a R$ 14,15 e, desde então, subiram 70,25%, valendo no dia 30 de julho, R$ 24,09. No ano, os papéis têm uma queda de 2,07%, desempenho melhor que o do Ibovespa, que perdeu 13,21%.

Outra empresa de softwares brasileira listada na bolsa é a Linx. O desempenho dela, no entanto, é pior do que o do Ibovespa. No começo do ano, suas ações valiam R$ 37,54. Em 16 de março, elas valiam R$ 20,74. Após essa data, elas entraram em uma trajetória de alta e encerraram o dia 31 de julho valendo R$ 2641, o que significa uma alta de 27,34% no período de crise.

A fabricante de computadores Positivo teve uma tendência semelhante à da Linx. As ações passaram de R$ 10,16 em janeiro para R$ 4,08 em 16 de março (mas, no mês, chegaram ao piso de R$2,29). Desde então, voltaram a subir e em 31 de julho estavam cotadas a R$ 5,24. No ano, a queda é de 48,43%, mas na crise a alta é de 28,43%.

Alguns analistas ainda consideram, dentro da gama de "empresas brasileiras de tecnologia" as credenciadoras de cartões Stone e PagSeguro, listadas no mercado americano.

A Stone, negociada na Nasdaq, começou o ano com ações cotadas a US$ 42,79. Em 16 de março, no entanto, elas valiam R$ 26,32. A partir daí, os papéis entraram em uma trajetória ascendente e no dia 31 de julho encerraram em R$ 47,71. Isso significa uma alta de 11,5% no ano contra 18,18% do principal índice da Nasdaq. Na crise, no entanto, a alta da Stone é de 81,27%, ante 55,63% do índice.

Já a PagSeguro, negociada na Nyse, começou o ano com suas ações cotadas a US$ 35,23. Em 16 de março, os papéis valiam US$ 20,19. Depois da data, se valorizaram 89,35% e no dia 31 de julho eram vendidas a R$ 38,23. No mesmo período, o principal índice da Nyse subiu 30,28%. No ano, a valorização da PagSeguro é de 8,52%, contra 10,98% de queda da Nyse.

Tem espaço para subir mais?

Segundo especialistas, ainda há espaço para as "techs" brasileiras avançarem mais, principalmente pela crescente demanda por seus serviços.

"Todas essas empresas já estavam em um momento de crescimento porque o mundo estava se tornando mais tecnológico. Mas a velocidade de adoção da tecnologia foi catapultada nesse momento de covid-19. Por exemplo, a venda de computadores explodiu em função do home office, o que favorece as fabricantes. Vários dos bancos precisaram tornar seus processos mais digitalizados, isso favorece a Sinqia. Todas as soluções e produtos digitais sofreram uma valorização. E esse comportamento de adotar mais tecnologia é algo que veio para ficar", afirma Lucas Chaise, principal executivo de cobertura de tecnologia da XP Investimentos.

George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo, concorda. Para ele, a medida que a demanda por novos produtos e serviços tecnológicos aumentar, essas empresas tendem a ganhar também.

"A tecnologia vem sendo a principal locomotiva das bolsas e nessa crise, elas saíram até mais fortalecidas, souberam se posicionar. E essas serão as empresas que continuarão se sobressaindo. Não adianta pensar que o processo tecnológico acabou, ele ainda está acontecendo", afirma.

Justamente por isso, a Vitreo lançou recentemente um fundo de ações brasileiras de tecnologia chamado Tech Brasil. O produto, lançado no dia 16 de julho, captou mais de R$ 21 milhões de 1,5 mil cotistas em quatro dias. Na carteira do produto, estão ações como as da Locaweb, Sinqia, Stone, PagSeguro e Mercado Livre. O aporte mínimo inicial é de R$ 5 mil e a taxa de administração é de 0,9% ao ano, sem cobrança de taxa de performance.

Falta de oferta

Para Chaise, da XP, produtos como esses tendem a ter uma forte demanda por parte do investidor. O que falta, no entanto, são as ofertas, inclusive de ações listadas na bolsa.

"As empresas de tecnologia do Brasil não chegaram à bolsa. Temos poucas listadas e isso não reflete a economia real. Todos os gestores de fundos gostariam de ter mais empresas de tecnologia para escolher", afirma. Ele conta, inclusive, que tem participado de lives com executivos de empresas de tecnologia e percebido o interesse de investidores nelas.

"Nas últimas semanas, participei de um webinar com duas empresas de tecnologia e tinha duas mil pessoas ouvindo. Todos os investidores pessoas físicas pediam para aquelas empresas irem pra bolsa, porque só viam empresas de tecnologia listadas nos Estados Unidos. O investidor está muito sedento por casos diferentes. Isso está bem evidente, não só entre investidores pessoas físicas, mas entre os institucionais também. Muita gente está aberto a cases de tecnologia, nos pedem isso, nos demandam isso. Porém, os institucionais têm mais opções de ir pra fora, investir em empresas no exterior", afirma.

O executivo aposta, no entanto, que nos próximos meses empresas brasileiras de tecnologia podem abrir capital. "Hoje, vejo que várias empresas de tecnologia que pensavam em IPO aceleraram esse processo e estão surfando essa água limpa de não ter tantas empresas do setor. Então, elas podem pegar essa demanda reprimida e sair na frente", afirma. "A gente está trabalhando mais ou menos uns cinco ou seis novos IPOs e ofertas de empresas de tecnologia", conta.

Chaise ainda destaca que empresas que não são da área de tecnologia, mas que inovam em processos tecnológicos, também podem entrar no radar. É o caso da Magazine Luiza e B2W.

"Elas não são de tecnologia, mas se destacam no uso delas, e isso hoje em dia é condição para crescer. O trabalho que elas fazem é brilhante, essas duas companhias são as que mais se destacam nessa transformação", conclui.

Fonte: Valor Investe


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