O impacto das atividades em casa na oferta da infraestrutura de rede


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O impacto das atividades em casa na oferta da infraestrutura de rede

Em um ano de pandemia, a transferência das atividades para o ambiente doméstico impactou significativamente a oferta de produtos e serviços de infraestrutura de rede. Neste período, ocorreram avanços e implementações de novas tecnologias de acesso para acompanhar, principalmente, a mudança de perfil no tráfego de rede, agora com grande participação do upload ou upstream de dados, ocasionado pelo uso intensivo dos aplicativos de videoconferência e também das soluções corporativas baseadas em nuvem e que precisam ser acessadas pelos trabalhadores em home. Um desafio para a indústria, no entanto, é antecipar o comportamento pós-pandemia, segundo Marcos Takanohashi, vice-presidente de vendas para provedores de serviços para a América Latina e Caribe da CommScope (foto). “Sabemos também que grande parte da demanda de tráfego sem fio ocorre em ambientes indoor, então a contínua implementação de infraestrutura sem fio em hotéis, aeroportos, parques, estádios, universidades, hospitais e empresas é algo motivado pelo aumento gradativo de quantidade de dispositivos conectados nas redes atuais.”, afirma. Veja a íntegra da entrevista concedida por e-mail.

Com a pandemia, quais foram as mudanças que se destacaram na demanda de rede?

Marcos Takanohashi: A pandemia acelerou uma tendência de transformação digital que já vinha sendo observada na sociedade. Com o lar se transformando em nosso ponto principal de trabalho, educação e entretenimento, a demanda de tráfego na rede fixa se intensificou. Uma mudança principal no perfil de consumo foi que o uso intensivo da rede, que costumava atingir o pico das 20h às 12h (4 horas) durante a pandemia começou a ocorrer das 8h às 2h (18 horas).
Um maior tráfego upstream gerado por assinantes na internet como consequência do uso maciço de videoconferência, aplicativos de escritório baseados em nuvem usados por trabalhadores remotos foi identificado e muito do impacto na demanda nas redes de acesso foi identificado pelo o transbordo tradicional da rede móvel para o Wi-Fi residencial.
Um efeito importante que a pandemia nos apresentou foi um crescimento de demanda de 30% em poucas semanas, quando a população moveu-se para a casa. Isso foi realmente um desafio à indústria, pois normalmente esse crescimento de 30% era observado entre um ano e o outro, porém os operadores e suas redes em nossa região provaram que as redes fixas tinham capacidade suficiente para atender às demandas dos consumidores .
Outro ponto importante é que, no caso do serviço da internet residencial, o tráfego no passado era muito assimétrico devido à baixa quantidade de conteúdo que uma casa poderia produzir, agora com mais funções sendo executadas de casa o foco atual por muitos operadores começa também a ser de aumentar a capacidade de rede na direção upstream e adicionar roubustez ao serviço residencial.
Ainda é difícil prever como esse novo normal será, talvez muitas pessoas continuarão trabalhando de casa alguns em modelos híbridos mas uma coisa que acreditamos que será pouco provável que aconteça é que a demanda de rede fixa volte para os níveis pré-pandemia.

O que motiva os novos projetos hoje?

MT: Evoluir as redes para atender essas novas demandas exigirá um investimento focalizado e inteligente na rede de acesso fixo e móvel. Isso motivará projetos de transformação dessas redes para redes mais baseadas em software e virtualizadas, o que permitirá ter redes mais flexíveis e adaptadas a suportar o crescimento necessário em melhor time-to-market.

Outra transformação importante, que chamamos de densificação das redes de acesso e que acreditamos irá ocorrer nesta década, é a evolução da rede de acesso com o acercamento da capacidade de computação ao cliente tanto em redes fixas como em redes móveis. Acreditamos que essa densificação das redes será feita de maneira seletiva, evoluindo as redes existentes, de forma distribuída e buscando entregar mais capacidade e qualidade de experiência ao cliente com casos de uso e entrega de requerimentos de baixa latência, alta confiabilidade e um comportamento cada vez mais determinista das redes. Neste quesito street/small cell para rede móvel com soluções mais abertas tipo O-RAN e a continua evolução da rede fixa com DAA(arquiteturas de acesso distribuídas) usando RMACPHY e também R-OLT serão utilizados como ferramentas importantes de crescimento.

A busca por eficiência nas redes continuará a ser uma constante nos operadores, particularmente em nossa região. Projetos que usarão tecnologias mais eficientes como o DOCSIS 3.1, XGSPON, 5G e Wi-Fi6 e 6E serão implementados nos próximos anos.

A mobilidade e os novos casos de uso futuros começando pelo emBB – enhanced mobile Broadband, mais tarde com outros casos de uso de ultra-reliable Low Latency e o massive machine type communications também continuarão a motivar a evolução de cobertura do 4G e futuras implementações de 5G, principalmente em novas frequências de sub 6GHz como a banda C de 3,5GHz e no futuro de banda de ondas milimétricas.

Sabemos também que grande parte da demanda de tráfego sem fio ocorre em ambientes indoor, então a contínua implementação de infraestrutura sem fio em hotéis, aeroportos, parques, estádios, universidades, hospitais e empresas é algo motivado pelo aumento gradativo de quantidade de dispositivos conectados nas redes atuais.

Há uma sinalização de que o mercado Wi-Fi será maior do que de redes cabeadas. Isto se confirma na América Latina?

MT: Wi-Fi é uma tecnologia que vem evoluindo ao longo dos anos, e agora na sua versão 6 e 6E com o uso de uma nova banda de 6GHz, atinge um pico de eficiência e capacidade bastante altas. A interface de escolha de nós consumidores é a interface sem fio, e cada vez mais a quantidade de dispositivos conectados em tecnologias sem fio aumentarão. A grande pergunta aqui é onde e em qual percentual a transformação da rede de acesso fixa para sem fio irá ocorrer, dentro da casa, nos aeroportos, hotéis, empresas, estádios e também em mobilidade fora de casa, todo esse movimento de crescimento e transformação da demanda irá requer mais investimentos nas redes sem fio em Wi-Fi e tecnologias 3GPP. Além disto, também vai requerer mais investimento nas redes fixas de fibra para suportar esse crescimento exponencial da rede sem fio. A sinalização é de que continuará a haver muito crescimento inclusive na América Latina do mercado de Wi-Fi e a mesma medida o crescimento de redes cabeadas de acesso fixo para suportar toda essa demanda.

Como está a adoção de Wi-Fi 6 na América Latina e no Brasil, particularmente?

MT: A adoção da tecnologia do Wi-Fi6 já está em uma fase de implementação crescente com um uso mais importante hoje em dia na vertical de Venue & campus, principalmente hotelaria. Um dos nossos produtos de Wi-Fi que acreditamos terá um inicio de implementação esse ano é um produto de Wi-Fi6E com tri-banda (2.4, 5 e 6GHz) que é o Ruckus R860, sendo capaz de suportar com eficiência a explosão de quantidade de dispositivos e a imensa capacidade que essa nova banda de Wi-Fi recém aprovada pela Anatel capacitará.

No ambiente residencial a tecnologia começa a ser investigada e já começamos a ver o movimento de adoção pelos maiores provedores da região e também no Brasil principalmente no inicio para clientes de alto valor e a massificação no mercado provavelmente deve ocorrer em maior volume em meados de 2023.

Wi-Fi6 ou 5G indoor? Qual tecnologia as empresas irão contratar para a conectividade de IoT?

MT: A visão da CommScope é que estas tecnologias são complementares, com suas características e deficiências em diferentes requerimentos e a implementação de cada tecnologia dependerá das aplicações de cada vertical da indústria. Algumas aplicações demandarão mais capacidade de maneira indoor em escritórios por exemplo, neste caso o Wi-Fi tem uma aplicação perfeitamente adequada principalmente pelo melhor custo benefício de implementação. Em casos de uso que exigirão mobilidade, o 5G será a tecnologia a ser adotada. Em muitos casos de uso, inclusive, a complementariedade é visível, um exemplo comum é o dia de uma pessoa que começa em casa usando Wi-Fi, dirige ao trabalho ou ao mercado usando a mobilidade do 5G e no trabalho provavelmente voltará a usar o Wi-Fi. Casos de uso de saúde utilizarão complementariamente as tecnologias para seu uso mais eficiente.

Quanto a aplicação de IoT, muitos casos de uso hoje em dia são implementados usando Wi-Fi, e principalmente quando os dispositivos estão conectados a energia e requerem bastante banda, exemplo são câmeras de monitoramento Wi-Fi. Dispositivos que necessitam de pouca banda e normalmente são operados por bateria necessitariam de implementações de novos rádios como Zigbee, BLE(Bluetooth Low Energy) e nestes casos implementações destes novos rádios seriam necessárias, alguns exemplos são dispositivos de missão critica como termômetros em câmaras frigorificas e outros exemplos de automatização de hotelaria onde a em nossa solução a implementação desses novos rádios pode ser feita por dongles USB, toda implementação ocorre através da infraestrutura já implementada e utiliza a mesma infraestrutura de controle para implementar as funções de IoT de maneira muito mais simplificada, ganho de eficiência e time-to-market sem necessidade de criação de novas redes de infraestrutura para suportar os casos de IoT.

A rede móvel 5G em sua evolução já prevê muitos casos de IoT inclusive com mobilidade e serão implementadas no futuro quando as novas frequências forem leiloadas nos países e as implementações de 5G densificadas começarem a ser implementadas.

Ao criar um projeto, quais cuidados as organizações devem ter, considerando este cenário de intensas mudanças e a necessidade de um investimento de mais longo prazo?
MT: Fazer o investimento na correta tecnologia e no tempo correto é fundamental para obter um crescimento sustentável, principalmente em nossa região aonde o ARPU (Receita Media por Usuário) não é considerado alto como nos países mais desenvolvidos. Pensar que nem sempre o equipamento mais barato e de mais baixo custo terá o melhor custo-benefício e principalmente nem sempre o melhor TCO, e principalmente pensando em longo prazo.

Com a constante mudança de novas tecnologias, a adaptação e transformações da organizações são também de grande importância para poder entregar a qualidade de experiência que o cliente deseja.

Investir em serviços com um parceiro que tenha o expertise também é de fundamental importância para os projetos desta década.

Em um cenário de 5G, o Wi-Fi segue como alternativa de transbordo no ambiente externo (outdoor)?

MT: Sem dúvida alguma o transbordo ao Wi-Fi do tráfego móvel provou ser uma ferramenta útil para atender áreas de tráfego densos ou locais focados, tais parques, estádios ou avenidas de pedestres, implantando pontos de acesso ao ar livre ou mesmo combinados com a capacidade de uso dos pontos de acesso do assinante (Wi-Fi comunitário).

É bem verdade que em um cenário aonde a mobilidade é requerida o 5G será imbatível e o Wi-Fi não terá as características técnicas necessárias para atuar como um transbordo externo, ao passo que, como falei anteriormente, se o caso de uso externo for um caso de uso onde a aplicação é banda larga simples em locais similares a parques, onde a movimentação irá ocorrer de maneira lenta, o Wi-Fi será provavelmente a tecnologia a ser adotada pelo seu melhor custo beneficio de implementação. Outros casos de uso como o de cidades inteligentes onde a comunicação frequentemente será de M2M (Machine to Machine), tanto o 5G como o Wi-Fi também poderão ser boas opções para uma variedade de casos de uso.

Cabe comentar também que um dos principais impactos do 5G na infraestrutura física atual é a densificação da rede de acesso que se faz necessária para cumprir a promessa de entregar pelo menos 10X a taxa de dados por usuário em comparação com LTE, de entregar a confiabilidade e a baixa latência aos novos serviços. Essa densificação, ainda que seletiva, apresentará um desafio importante, pois essa quantidade grande de street/small cells que deverão ser implementadas demandará um local de instalação, uma energia dedicada e transporte backhaul por célula. Sem dúvida, devido a esses desafios e semelhanças na propagação de rádio entre algumas bandas potenciais de 5G sub 6Ghz e bandas Wi-Fi, seria interessante pensar nessas tecnologias como complementares e seria também prematuro descartar a tecnologia Wi-Fi como ferramenta válida para transbordo móvel.

Os provedores de serviços de internet podem pensar na oferta de novos serviços a partir destas duas tecnologias? Quais?

MT: Se olharmos a implementação futura do 5G, a especificação da rede móvel de nova geração 5G Novo Radio já classifica os casos de uso em 3 principais, sendo o eMBB (Banda Larga Móvel Melhorada), que basicamente é um aumento da capacidade de banda do serviço ofertado, a urLLC (Comunicação confiável de ultra baixa latência), onde a busca aqui é de comunicação. Há casos de uso de automóveis auto-dirigidos, cirurgias remotas e muitas outras onde a latência será de vital importância para que a decisão de movimentação de uma máquina seja feita de pontos remotos de maneira eficaz. E por último, o que chamamos de mMTC (comunicação do tipo massivo de máquina a máquina), isso é a comunicação massiva de uma nova gama de novos dispositivos de IoT que necessitarão de redes cada vez mais determinísticas, com capacidade de suportar uma grande quantidade destes dispositivos comunicando com grande frequência.

O Wi-Fi em sua versão 6 e principalmente o 6E, onde o uso de nova banda de frequência de 6GHz apresentará uma nova gama de possibilidades de casos de uso, um desses sendo o que chamamos de paperless health (saúde digital sem papel), todas informações de atendimento do paciente feita de maneira digital, esse caso de uso será um onde a complementariedade do uso das tecnologias se fará presente, começando pela monitoração do paciente em casa com o Wi-Fi, a comunicação e monitoramento via 5G durante uma necessidade de deslocamento destes paciente inclusive de emergência se for o caso e por ultimo o uso complementar do Wi-Fi e 5G dentro de um hospital em um possível atendimento.

Um dos novos e promissores mercados, principalmente no Brasil, é o da automatização da agroindústria, o ganho de eficiência de um pilares da geração de PIB nacional será de muito valor e neste caso a aplicação complementar de tecnologias será de fundamental importância para a geração de riqueza do pais e deste setor da economia.

Em termos de segurança da informação, quais recursos podem ser adotados para uma empresa ter maior proteção de rede?

MT: Assim como o controle de acesso é importante no mundo físico, e agora com cada vez mais as empresas tendo que suportar seu funcionários em home office, muitas empresas estão procurando atuar com sistemas distribuídos de controle de acesso digital e entrega de Wi-Fi distribuído com a certificação de que estarão garantindo a integridade de dados valiosos e continuidade de produtividade.

O risco apresentado pela falta de forte segurança de acesso à rede é imenso. Os hackers podem espionar o tráfego de dados sem fio não criptografado usando ferramentas de análise de rede amplamente disponíveis. A implementação de sistemas Wi-Fi com controle de acesso e também utilizando padrões de criptografia do tipo WPA3 se tornam cruciais.
A implementação de Machine Learning, em conjunto com ferramentas importantes de análise computacional (Analytics) nas redes, ajuda também a entender mais facilmente os ataques de hackers e mitigá-los.

Pensando em atualização profissional, o que deve ser prioridade nesta área?

MT: Sem dúvida nenhuma uma área que nossa região deveria focar de maneira extensiva é a atualização profissional. A falta de profissionais capacitados no mercado mundial é algo real, principalmente em áreas de transformação, como é o caso da transição a implementação de software a redes de acesso, ao conhecimento profundo dos profissionais em Big Data, Inteligência artificial, machine learning que serão fundamentais para a habilitação de todos esses casos de uso, que sem duvida gerarão um imensa riqueza para o nosso país e a região da América Latina na próxima década.

Fonte: IPNews


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